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27.4.04

O cinema português e o fedor característico

Por que é que o cinema português cheira mal? Não estou a dizer isto só para ter assunto. É mesmo uma questão que se me coloca com frequência. Já tem acontecido sentar-me numa sala para ver um filme português, convencido de que “desta é que vai ser” para acabar sempre desiludido, e, mal as imagens surgem no écran, começa a cheirar mal. Literalmente e sem sentidos metafóricos escondidos.

Outros filmes despertam em mim reacções igualmente desagradáveis, claro está. Por exemplo, sempre que vejo um filme com Renée Zellweger, fico com azia. O filme até pode estar a correr bem e até posso estar a gostar mas mal aparece aquela cara bolachuda de doente com papeira, sinto uma necessidade imperiosa de beber água com gás para ver se aquilo passa. E tentem explicar aos senhores que trabalham nos bares à porta de alguns cinemas que querem uma água com gás e não um balde de cartão com uma quantidade de pipocas que corresponde à produção anual de milho da Eritreia. Não é fácil. Ainda por cima, têm aquela mania dos tamanhos. Tudo é pequeno, médio e grande. Para que quereria eu uma água com gás grande? Para me enfiar lá dentro e fazer um tratamento termal?

O que me chateia é que, no caso do cinema português, é toda uma nacionalidade que fica associada ao mau cheiro e não apenas um filme específico. Chateia-me mais ainda porque, apesar de já ter tentado resolver isso, a referida nacionalidade até é a minha e, por causa dos sacanas da embaixada do Paraguai que não quiseram aceitar a minha proposta de cidadania, agora vou ter de falar sobre isso. Ora pimba!

Não direi, nem ninguém poderá dizer porque se o fizer é uma besta, que o cinema português é todo igual, ou seja, mau. Isso é mentira. Nem se pode dizer que os realizadores portugueses no activo (João César Monteiro morreu e Oliveira já nem é português) são todos uns imbecis, o que também não corresponde à verdade. Há o Fernando Lopes, o homem que fez coisas como o “Belarmino” ou o recente “Delfim” que foi, provavelmente, o único filme português a não cheirar mal nos últimos 30 anos. Os restantes distribuem-se pelos vários níveis da grande escala da azelhice esclarecida e da presunção infalível.

Joaquim Leitão não tem realizado grande coisa nos últimos anos e ainda bem porque como actor até consegue às vezes ser menos mau (com os actores que temos, não é difícil ser-se menos mau mas isso é outra conversa). Mesmo assim, o país agradece-lhe ter posto Maria de Medeiros a dizer “vai à merda,” alimentando assim as fantasias masturbatórias de muito boa gente durante muito tempo.

O par José Fonseca e Costa/António Pedro Vasconcelos é especial. Tanto um como o outro realizaram no passado filmes que até se vêem relativamente bem (ou se calhar é só porque a qualidade do som dos filmes portugueses anteriores a 2000 era tão má que, por não termos percebido metade do que foi dito, imaginámos uma coisa de qualidade superior à real). Mas a sua produção actual retira-lhes o pouco mérito que teriam por isso. Especial destaque para António Pedro Vasconcelos que, só por “Jaime,” merecia ver esse destaque traduzido em obrigarem-no a bater com a cabeça na parede até fazer buraco (na cabeça ou na parede).

João Mário Grilo é um pindérico com a mania mas tem um talento nato para escolher títulos ironicamente adequados às porcarias que faz. Lembro-me de “A Falha” ou “Longe da Vista” por exemplo.

João Botelho até vai tendo uma ou outra ideia engraçada mas a concretização é sempre desastrosa (vide “A Mulher que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos da América” também conhecido em alguns círculos como “O Homem que Acreditava Ser Realizador de Comédias de Costumes”).

Depois há os novos valores (no sentido mais escatológico do termo). Leonel Vieira podia ser deportado para a selva amazónica, tendo por única companhia Diogo Morgado, obrigado a mudar-se para a Zona J de Chelas tendo como único guarda-roupa túnicas do Ku Klux Klan e forçado a engolir uma bomba (para quem não está dentro destas coisas, esta frase contém referências aos títulos de três filmes do realizador em questão, descubra quais e habilite-se a fabulosos prémios), que, mesmo assim, não teria o castigo merecido pela audácia criminosa de desperdiçar película com os seus filmes (ainda que a cara de parvo e o déficit cerebral o tornem inimputável).

Edgar Pêra representa uma estética cinematográfica mais alternativa. E consegue ser tão alternativo que se torna perfeitamente inócuo. Eu nem tenho nada contra arranjar emprego para amigos que gostavam de ser actores ou directores de fotografia, mas se houvesse maneira de o fazer no fundo do mar, fica muito agradecido.

Joaquim Sapinho foi durante algum tempo considerado a coqueluche do cinema português moderno. Os seus filmes (os dois únicos que fez, felizmente) mostravam arrojo, coragem para abordar temas polémicos, actores que não abriam a boca para falar, diálogos vomitáveis, histórias que não iam para lado nenhum, planos enjoativos... Até que se percebeu que não. Era só fogo de vista. Fica para a história o impacto mediático que teve a obra de estreia, “Corte de Cabelo,” o equivalente cinematográfico a uma operação à apendicite sem anestesia.

E nem mesmo Fernando Lopes escapa à onda malcheirosa. Quem tiver azar e não souber ao que vai, ainda poderá ver nas salas o seu último filme, uma coisa chamada “Lá Fora” que repete o elenco do “Delfim” mas substitui a adaptação do romance homónimo de José Cardoso Pires (feita, e bem feita por mais que me custe admiti-lo, por Vasco Pulido Valente) por um argumento original do crítico de cinema João Lopes que, se tiver uma partícula de vergonha na cara, nunca mais se atreverá a criticar filmes alheios.

Não consigo perceber por que são assim as coisas. Nos outros países, fazem-se filmes bons, assim-assim e maus. Em Portugal, quando temos um filme que consegue ser apenas péssimo sem dar ataques de diarreia ao espectador, sentamos o realizador num andor e levamo-lo em cortejo triunfal, abençoado pelo padroeiro destas coisas, São Paulo (Branco).

É claro que a responsabilidade não pode ser atribuída unicamente aos realizadores. Um filme é fruto do trabalho de uma equipa numerosa em que todos os profissionais têm o privilégio de dar o seu contributo para o estragar. E fazem-no com mestria. A começar pelos argumentistas responsáveis pelos diálogos que só não dão vontade de rir quando tentam, e pelos actores (o que seria dos filmes de merda sem actores à altura).

Estes podem ser de três tipos. Por um lado, há aqueles que pertencem a uma escola mais realista de interpretação e esforçam-se ao máximo por representar com naturalidade só que, infelizmente, não têm talento para o fazer e falham miseravelmente (Exemplos: Diogo Infante, Fernanda Serrano). Por outro, temos a escola mais clássica, constituída por actores que representam os seus papéis como se estivessem em equilíbrio sobre uma alta coluna de mármore, declamando poesia abstracta turca com os olhos vendados e com alguém a seus pés fazendo-lhes sexo oral (Exemplos: quase todos os actores que apareçam num filme português e tenham menos de 35 anos).

Finalmente, o grupo mais reduzido é o dos entusiastas que, não sendo actores, ou por convite do realizador, ou de um produtor amigo ou por sugestão própria, decidem dar um arzinho da sua graça no grande écran, provando ao mundo que é possível ser-se irritante no desempenho de várias funções (Exemplos: Catarina Furtado, Anabela Mota Ribeiro).

Com isto tudo, sempre que vejo anunciado mais um filme português, e calejado como estou, já não me ocorre pensar “Será bom? Será mau?” porque já sei qual será a resposta. Em vez disso, olho para o cartaz, leio as letras miúdas para saber quem está metido naquilo e tento perceber se o mau cheiro será mais de um tipo sulfuroso, como o cheiro a lodo, ou acre, como o cheiro a vómito.

17.4.04

Um sonho de programa

Os concursos de misses sempre desempenharam um papel de grande importância para a humanidade. Como é sabido, o planeta Terra tem gente a mais e, se chineses, indonésios e indianos (entre outros) continuarem a fazer de conta que não percebem o conceito de “planeamento familiar,” mais cedo ou mais tarde, vamos ter de começar a lutar com os vizinhos até à morte por uns metros de espaço só para nós e para os nossos, mais ou menos como acontece na Costa da Caparica nos meses de Junho a Agosto.

É aqui que entram os concursos de misses. A sua função é mais ou menos a mesma das epidemias, das erupções vulcânicas, dos terramotos e das festas da TVI mas de maneira mais civilizada, com menos sangue e de forma mais adequada a esta era de esclarecimento em que vivemos. Funciona mais ou menos assim. Os concursos de misses são transmitidos pelas estações de televisão e vistos pelos espectadores confortavelmente instalados nos lares respectivos.

Ora, e aqui está a subtileza, uma percentagem dos espectadores que os vê não o faz por vontade própria mas por contingências várias como, por exemplo, não ter nada melhor para fazer ou para ver, ter de fazer companhia a uma cara metade ou familiar que insiste em ver aquilo, estar entrevado numa cama sem poder mudar de canal e sem poder chamar alguém para o fazer etc.

De entre estes, é altamente provável, que uma boa parte sofra o equivalente cerebral de uma fuga num reactor nuclear. Os efeitos são lentos mas devastadores. O dia há-de chegar em que estes infelizes ponham fim à própria vida e, depois, virão as explicações. Dir-se-á que foi por problemas de dinheiro, familiares, existenciais ou outros. Nada disso. Mataram-se porque, nalgum momento das suas vidas, foram expostos a um concurso de misses. Excepção talvez para o entrevado que continuará entrevado e não poderá praticar o suicídio por razões óbvias apesar de vontade não lhe faltar.

No entanto, apesar de os concursos de misses já concentrarem em si uma combinação letal e perfeitamente doseada de estupidez, degradação humana e menear de ancas, o engenho humano arranja sempre maneira de tornar as coisas ainda mais desagradáveis. Por exemplo, transformando a pré-selecção das candidatas a Miss Portugal num reality-show baptizado com o infeliz título “Um Sonho de Mulher.”

Poder-se-ia dizer muita coisa a respeito disto. Que é um aproveitamento barato da popularidade do “Ídolos” (devida em parte ao tenebroso júri), recorrendo-se a um júri ainda mais tenebroso. Que é uma maldade. Que ninguém merece ouvir “gosto das pernas mas do pescoço para cima és uma desgraça.” Que ninguém merece ouvir “gosto das pernas mas do pescoço para cima és uma desgraça” e ser forçado a olhar para o focinho de Manuel Serrão ao mesmo tempo. Que é uma maldade. Que não se faz. Que há coisas que ninguém consegue ver. Mas não vale a pena dizer nada disto.

Inaugurado que está o precedente, por que não fazer aos elementos do júri exactamente o mesmo que fazem às infelizes que lhes passam pela frente? Com a atenuante de isto ser um recanto obscuro da internet e não a televisão, de não ser visto (lido) por milhões de pessoas e de não dizer estas coisas olhando para a cara das vítimas (sendo precisamente aqui que reside a maior maldade) até porque não seria capaz de o fazer. Bom... ao Manuel Serrão talvez.

Vamos por partes.

Ana Borges é a única dos quatro que deve realmente alguma coisa à beleza. Parece que foi modelo profissional e tudo. Mas quando se tem aquele arzinho de cabra enjoada, não há beleza que resista. Se calhar é frustração. Sabe-se lá se não teria como sonho de infância ser médica ou advogada e nunca se perdoou por ter enveredado por uma carreira onde se progride à custa de broches. Ou, se calhar, estou a ser injusto e aquilo são boas intenções, vontade de afastar jovens incautas do mundo que escolheu para si e encaminhá-las para outros em que não tenham de passar tanto tempo de joelhos.

Acerca de Xana Guerra nem sei o que diga. Quando alguém se apresenta como consultora de imagem e tem aquela cara e aquele cabelo, algo está muito mal. Mas sou injusto mais uma vez. O cabelo tem um mérito. A franja sempre ajuda a ocultar a cara de quem tem uma farpa de madeira espetada no esfíncter anal. E também é verdade que, do seu palmarés, fazem parte trabalhos como consultora de imagem da TVI e da RTP. Basta olhar para Judite de Sousa ou para Manuela Moura Guedes e explicações adicionais tornam-se dispensáveis. Esta senhora é responsável por alguns dos comentários mais viciosos do programa. Talvez porque até a fanhosa, estrábica, gorda e com aparelho que acha que pode ser miss (e não pode, realmente) tem melhor aspecto do que ela. Rancor.

E falando em rancor, também lá está um tal Victor Nobre, produtor de eventos de moda e cachalote mantido em cativeiro. O rancor deste cavalheiro é mais profundo e não se fica por aspectos superficiais de beleza ou falta dela (falta dela, neste caso). O que o incomoda nas candidatas, em todas, mesmo nas que vai poupando, é que não têm pila, uma qualidade com que deve sonhar desde muito novo. É que por mais que tente, por mais farpelas de costureiros famosos que desvie dos desfiles, uma senhora não convence ninguém se tiver... digamos... algo que não deveria ter ali na zona do baixo ventre. É pouco estético e dá cabo de qualquer vestido de noite. A este senhor ouvi-o perguntar “mas não tem espelhos lá em casa?” E olhando para ele, e vendo aquela cara de poia ressequida com trejeitos de bicha, quase dá vontade de lhe devolver a pergunta com uma ligeira alteração: “Mas não tem raticida lá em casa?”

Raticida. Ratos. Bichos feios. Doenças. Pus. Manuel Serrão. Acho que nem Carlos Pinto Coelho conseguiria uma sequência mais perfeita do que esta. O que dizer de alguém com um talento inato para só dizer merda de cada vez que abre a boca ou de cada vez que o deixam passar para o papel o que lhe passa pela ETAR defeituosa que tem dentro do crânio? Que é feio e burro? Ele sabe. Que se veste mal apesar de ser apontado como empresário da moda? Desconfio que também saiba. Que é irritante como um par de cuecas feito de papel vegetal? Já o sabe há muito, está-se nas tintas e até tem nisso um certo orgulho. O que resta? Que tem cara de quem nunca alcançou nada na vida sem ser à custa do nome do paizinho e que, se consegue uns minutinhos de fama de vez em quando que tanto gozo lhe dão, é tudo graças ao senhor doutor, seu pai? Talvez.

E agora, com licença, que vou ali atirar-me do viaduto mais alto que encontrar, evitando assim desgraças futuras provocadas pelas malditas misses. É rápido. Prometo não demorar.

Ah! E a Sílvia Alberto tem coxas de futebolista. Ora toma para perderes o sorrisinho.

10.4.04

A evolução na revolução

Gosto muito dos novos cartazes comemorativos do 25 de Abril. Para quem ainda não os viu, fica uma breve descrição: fundo branco, quatro imagens do mesmo cravo manipuladas digitalmente e coloridas com cores berrantes dispostas de forma a simular um quadro de Andy Warhol; uma inscrição a preto dizendo “Abril é Evolução” com a palavra “Evolução” em bold; por baixo, noutra cor, os dizeres “30 anos.”

E depois de ler a explicação de Nuno Morais Sarmento sobre o “conceito” das comemorações deste ano, fiquei a gostar ainda mais. Diz assim o nosso ministro da Presidência: “Os valores da Liberdade, da Democracia, do Progresso Económico e Social, não são compatíveis com comemorações rotineiras e enquadradas em considerações meramente ideológicas.”
Concordo plenamente. E não é só por saber que estas palavras foram ditas pelo único membro do governo capaz de me partir o nariz com um murro e também o primeiro a ter feito alguma coisa de útil (quando arrumava carros para sustentar o vício da droga) desde que um ministro da Primeira República decidiu afogar-se no Tejo no longínquo ano de 1921. Há aqui um grande fundo de argúcia e audácia política. Tão fundo como a garganta de Paulo Portas e tão grande como a sua cavidade rectal.

As comemorações do passado davam ênfase aos aspectos revolucionários do 25 de Abril. Ora isto não é positivo. As revoluções não são coisas agradáveis e não devem ser promovidas de forma descarada. Costuma haver violência (mais do que a violência que houve na nossa revoluçãozita), dá-se cabo do status quo, obriga-se a remodelações em vários sectores da vida pública, há perseguições de pessoas ligadas ao regime anterior e uma série de pormenores desagradáveis do género.

Vejamos o caso específico da revolução a que alguém decidiu chamar “dos cravos” (porque algumas revoluções ainda vão conseguindo ter nomes bonitos). Em primeiro lugar, os portugueses passaram a ter a obrigação de ir votar, o que é uma grandessíssima chatice, apesar de tudo o que possam dizer. Uma pessoa está sossegada em casa a ver a fórmula 1 na televisão e tem de levantar o traseiro do sofá e ir para uma escola secundária com telhados de lusalite e infiltrações, esperar numa fila para pegar numa esferográfica BIC roída e fazer uma cruz num papel. Felizmente que o voto em Portugal não é obrigatório como noutros países e os portugueses, com o passar dos anos e o esbatimento da novidade, perceberam que participar no processo democrático não tem metade da piada de comer amendoins e beber cerveja enquanto se vê o Schumacher a ganhar mais uma.

Depois há a questão da responsabilidade. Uma coisa é ser governado por um ditador e poder pensar “isto assim é tramado mas uma pessoa também não pode fazer nada, paciência” e outra é acharmos que, se somos governados por bandos de imbecis que vão alternando nos diversos poleiros e que se dedicam a arranjar maneiras criativas de nos foder a vida (caso hipotético, longe de mim dizer que é isto que acontece no nosso querido Portugal), é por nossa culpa, “nossa” enquanto povo, e que, mesmo que não tenhamos votado naquele grupo de imbecis específico, temos de viver rodeados por pessoas que o fizeram e, pior ainda, por pessoas que o fizeram e não se arrependem.

E não nos podemos esquecer do respeitinho. Antes do 25 de Abril, havia respeito. Não é como agora que toda a gente pode dizer o que lhe passar pela veneta, podem andar para aí a escrever o que bem lhe apeteça, a falar mal de pessoas importantes e que só querem o nosso bem, a não ir à missa (!) ou a fazer abortos a torto e a direito como quem come tremoços.

Por tudo isto, as revoluções, mesmo aquelas em que os revolucionários têm o bom senso de fazer asneiras para não parecerem os salvadores da pátria (como sucedeu por cá, onde a revolução que agora se comemora foi generosa em asneiras), são perigosas e devem ser evitadas a todo o custo. Ainda por cima, porque parece mal. Dão-nos ar de arruaceiros e gente sem moral que queima soutiens e corta cabeças e faz barricadas e assim. É uma coisa terceiro-mundista. Que haja revoluções na Guiné ou na Venezuela ou nas Ilhas Fiji está bem. Agora cá não. Estamos na Europa. Somos um país sério e venerando. Estamos entre os quinze países mais prósperos e desenvolvidos da Europa. Raios, nós vamos organizar um campeonato europeu! Nem a Guiné, nem a Venezuela, nem as Ilhas Fiji se podem orgulhar do mesmo.

O novo “conceito” das comemorações do 25 de Abril proposto pelo governo vai deixar muita gente mal-intencionada a pensar que é só uma manobra descarada para tentar camuflar uma história que já nem é tão recente como às vezes se pensa (30 anos é muito ano) porque é um facto que são os partidos da oposição, da chamada “esquerda,” que mais beneficiam com os aspectos folclóricos das comemorações da revolução e que mais a podem usar em benefício próprio, até porque é nos partidos da chamada “esquerda” que se concentram as pessoas que a fizeram ou que ajudaram a fazê-la (salvo algumas excepções, como, por exemplo, Adriano Moreira, que tanto queimou as pestanas a fazer murais clandestinos). Pessoalmente, acho que não têm razão.

É tempo de mudarmos a nossa maneira de ver as coisas e de fazermos do bom senso uma imagem de marca dos portugueses, juntamente com os bigodes, a sinistralidade rodoviária e os futebolistas violentos. Chega de comemorar insurreições armadas. Chega de mostrar fotografias às criancinhas de tanques e soldados com flores enfiadas nas metralhadoras. Já chateia. E se alguém não gosta do que eu digo, que se vá queixar à PIDE. O quê? Já não há PIDE?... A culpa não é minha, pois não?

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