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29.6.04

Adeus Zé Manel

Zé Manel.

Não me conheces mas sinto que chegou o momento de te dirigir algumas palavras. Não posso adiá-lo mais. Antes de mais, permite-me que te trate por tu. Podes achar um abuso de confiança mas garanto-te que o faço com a mais nobre das intenções. Trato-te por tu, apesar de não te conhecer pessoalmente, como se trata por tu o mais querido dos amigos.

O meu nome é irrelevante. Basta dizer-te que sou um dos felizes cidadãos deste país que ao longo dos últimos anos beneficiou do teu savoir-faire político, da tua perspicácia analítica, da tua retórica infalível. E talvez seja pertinente acrescentar que não votei em ti. É verdade, Zé Manel, não votei em ti e, na altura em que o poderia ter feito, acho que preferia contrair uma doença letal que só pudesse ser curada mediante aplicação de supositórios para cavalo cinco vezes ao dia a votar em ti e nos teus amigos. E olha que não considero esta possibilidade nada agradável. Bem sei que um dos teus ministros de Estado te confidenciou uma vez que se divertia muito com uma coisa parecida mas isso é lá com ele. Cada qual sabe de si e eu não estou aqui para julgar ninguém.

Mas se o arrependimento matasse, eu já estaria mais morto do que o teu choque fiscal. Se soubesse o que sei hoje não teria hesitado em confiar-te o meu voto, seguro de que tu serias o homem indicado para conduzir a nação a bom porto.

O engenheiro deixou-nos a todos com uma mão à frente e outra atrás mas tu, Zé Manel, tu amputaste-nos as mãos. E ao fazê-lo, fizeste-nos perceber que elas tapavam qualquer coisa que poderia facilmente ser posto a render para ganharmos uns trocos e enganarmos a crise.

Outros riram-se quando viram alguns dos ministros que escolheste. Lembras-te? Confesso que também eu me ri. Não mo podes censurar. Aquele que não diz os erres, a outra que parece uma lagartixa mumificada, o janota que era jornalista e agora já não é, a Celeste Cardona...

E admito que fiz mal em rir-me. Com o tempo fui percebendo que não se deve julgar um ministro pelos seus defeitos na fala, pelo seu aspecto físico, pelo seu grau de alfabetização ou por gostar de se trancar horas a fio no gabinete em reunião de emergência com rapazinhos de catorze anos. É a lidar com o povo e a resolver os problemas que surgem no dia-a-dia governativo que se percebe a fibra de um governante. E a fibra dos governantes que escolheste, Zé Manel, posso dizer-te que é de vidro. Daquela bem rija e que quando lhe tocamos com a pele nua ficamos com comichão durante semanas e não há pomada ou unguento que resolva.

Tu lembras-te daquela cimeira nos Açores? É normal que não te lembres porque já foi há uns tempos. Eu lembro-me bem. Foi a partir daí que comecei a olhar para ti com outros olhos, sabes? Lembro-me do esforço que fizeste para quase não aparecer nas fotografias e nas imagens televisivas para mostrar àqueles que te acusaram de estares sedento de protagonismo internacional que estavam redondamente enganados. E ainda gostava de saber como conseguiste que tudo o que disseste na cimeira fosse completamente ignorado pela imprensa internacional. Se algum dia te encontrar em pessoa, gostava que mo explicasses.

E a mestria com que lidaste com o Euro? Se isso não faz de ti um génio não sei o que fará. Não tiveste medo que te acusassem de aproveitar o Euro em favor dos partidos que te apoiam nas eleições europeias, mostrando que és um homem com eles no sítio. E se bem te conheço, e começo a conhecer-te, não te ficaste só pelas declarações sorridentes e pelas demonstrações públicas de que também tu estavas com a selecção e sofreste como qualquer português sofreu quando aquele espanhol rematou ao poste. Eu sei que és bem capaz de ter ido aos balneários no intervalo do jogo com a Inglaterra quando estávamos a perder e dizer “Meus senhores, isto assim não pode ser. Ou ganham juízo nessas cabeças ou vai tudo corrido à bofetada.” E a seguir deste-lhes a táctica que tão bons frutos acabaria por dar de maneira a que até o treinador te deu razão e reconheceu que com tanto talento também tu podias ser campeão do mundo e nem precisavas de jogadores para nada. No fim do jogo, quando toda a gente celebrava eufórica, não tiveste o reconhecimento merecido pelo que fizeste mas, modesto como és, também não o pediste e limitaste-te a partilhar da alegria comum.

Agora vais-te embora. E nisso és como Coimbra. Também tens mais encanto na hora da despedida. Tiveste a tua dose de críticas. Uma dose bastante generosa até. Chamaram-te tudo, acusaram-te de muito. Mas olha para eles agora. Vê os que te criticaram a lamentar a tua partida e a manifestarem-se publicamente contra a tua substituição.

Mas não penses que é só por não gostarem do outro gajo. Está bem que tem ar de mafioso e cheira a putas e gosta de aparecer em revistas de mexericos e tem uma ou outra paranóia messiânica e tem ideias que só fazem sentido para ele mas isso são pormenores que não chegam para despertar uma tal onda de mobilização.

Não me interpretes mal. Atenção. Não te estou a criticar por ires. É verdade que lamento a tua partida e preferia que não fosses mas compreendo-te muito bem. É outra posição e não deixas de ser um homem íntegro por isso até porque a integridade tem limites e quando se deixa escapar uma oportunidade destas deixa-se de ser íntegro para passar a ser parvo. Os que barafustaram contra o tempo que levaste a anunciar uma decisão esperada fariam o mesmo na tua posição. Era só o que faltava fazeres o anúncio antes de teres a certeza absoluta de que ficavas com o lugar e de que cá por casa não estragavam a maioriazinha que tanto te custou a alcançar.

Altruísta como és não queres que sejam apenas uns míseros onze milhões de almas a beneficiar do que tens para oferecer quando há mais vinte e quatro países a precisar de ti. É a decisão correcta. Vai, Zé Manel. Não olhes para trás. Nós havemos de ficar bem. O outro gajo pode elevar a prostituição à qualidade de actividade económica por excelência do país, pode até transformar centros de saúde e escolas em discotecas e clubes de strip mas não há-de ser nada. Não penses mais em nós, Zé Manel. Eu sei o que te custa. E os outros todos também sabem. Vai em frente. Se puderes fazer alguma coisa por nós quando estiveres lá em cima, melhor, se não puderes nós percebemos.

E quando estiveres no teu gabinete com ar-condicionado a ouvir alguém a explicar-te em francês, alemão ou espanhol (com tradução simultânea, claro, porque sabemos que nunca foste muito dado a línguas estrangeiras) o que deves dizer a respeito deste ou daquele assunto, pensa em nós de vez em quando. Nos que têm de aprender a viver com um túnel do Marquês gigante de Faro a Caminha, com um casino e uma feira popular plantados no meio de cada parque natural e reserva ecológica, com a Kapital com o estatuto de residência oficial alternativa do nosso líder.

Adeus, Zé Manel. Só te desejo coisas boas.

Assinado: Um amigo e admirador

19.6.04

As armas e os barões

Comprei uma bandeira para pendurar na janela. Custou-me um euro e vinte na loja de um chinês. Nunca pensei que o orgulho de uma nação quase milenar se pudesse adquirir por um preço tão em conta. E ainda me ofereceram um conjunto de luzes de Natal com desfeito (piscam mas só quando lhes apetece-é o último grito da inteligência artificial made in Singapore).

Só quando cheguei a casa e desdobrei o estandarte para o examinar melhor é que percebi que havia ali qualquer coisa que não estava bem. No meio de cada quina havia cinco estrelinhas amarelas dispostas em padrão de cruz. Em vez dos castelos do escudo, uns estranhos objectos amarelos que se assemelhavam vagamente a carros de fórmula 1 vistos de cima. E o que mais me desagradou foi o facto de, quando me ensinaram o significado das quinas, da esfera armilar, do vermelho e do verde, ninguém me ter dito que a bandeira portuguesa ostenta por baixo do escudo a inscrição “PORTUGAL EURO 2004” a amarelo.

Guardei-a no saco para reclamar com o chinês que ma tinha vendido. Não querem lá ver a brincadeira! Se calhar, também gostava que lhe vendesse uma bandeira da República Popular que, em vez das cinco estrelas de cinco pontas amarelas, tivesse cinco pikachus em poses de atleta (tão atleta quanto um pokemon pode aspirar a ser, pelo menos).

É indecente que haja gente que se aproveite de maneira descarada do patriotismo dos portugueses. Esperem. Não era bem patriotismo que queria dizer porque, realmente, não é disso que se trata. É mais patriotice. Um ataque passageiro de patriotice exacerbada.

E a culpa é de Marcelo Rebelo de Sousa, esse Nun’Álvares dos tempos modernos. Foi ele o primeiro a apelar aos portugueses para exibirem a bandeira e mostrarem assim o seu apoio à selecção nacional. Pelo menos, a TVI diz que foi ele o primeiro e se uma informação vem de fonte tão fidedigna como esta, quem sou eu para duvidar?

Não sei é se será só por causa da selecção. Parecem-me coincidências a mais. Primeiro, é a iniciativa “Portugal em Acção” promovida pelo governo há vários meses. Não sei bem o que é ou para que serve mas não há dúvidas de que dá um rico logotipo para pôr em autocolantes e camisolas. Faz lembrar campanhas como aquela que, durante o Estado Novo, sobrepunha mapas do império ultramarino a um mapa da Europa com a frase “Portugal não é um país pequeno” por baixo.

O objectivo parece ser mais ou menos o mesmo. Convencer os portugueses de que as coisas não são tão más como são na realidade e desencantar motivos de orgulho entre coisas aparentemente inócuas como o tamanho dos países (apesar de não ser o tamanho do país que interessa mas sim o que se faz com ele).

Só que agora já não temos colónias para sobrepor ao mapa da Europa e se fizéssemos o mesmo com silhuetas do ministro Paulo Portas nu em poses pornográficas, muita gente iria levar a mal apesar de ser possível que uma boa parte adorasse.

E também é verdade que do aparelho do Estado Novo fazia parte gente que pensava. Podiam não o fazer com as melhores intenções do mundo mas pensavam. É claro que não vou dizer que no governo actual ninguém pensa mas só não o faço porque agora não me apetece e também porque toda a gente já o sabe, incluindo o primeiro-ministro que afirmou na noite das eleições europeias ter percebido a mensagem que os portugueses lhe quiseram transmitir.

Tive pena de não saber antes que era possível transmitirmos mensagens ao primeiro-ministro. Se tivesse sabido, em vez da cruz, tinha aproveitado o boletim para escrever um recado de algumas linhas ao nosso homem do leme. Tenho de me lembrar disto para as próximas. E de ver se a legislação eleitoral diz alguma coisa acerca de um número máximo de palavrões que pode ser inscrito no boletim de voto.

E haverá motivo para tamanha onda de patriotice?

Francamente, acho que sim. Diz-se que Portugal está na cauda da Europa (posição de que fomos afastados temporariamente por alguns dos novos estados-membros da União Europeia mas só até estes conseguirem organizar a sua vidinha e passar-nos à frente como fizeram os outros todos). E eu pergunto: isso é assim tão mau?

Imagine-se a Europa como uma coluna militar. Numa coluna militar, as posições que exigem maior coragem e espírito combativo da parte dos soldados, para onde ficam guardados os mais bravos homens de cada exército, são precisamente a frente e a retaguarda porque cabe-lhes a responsabilidade do primeiro embate com as tropas inimigas (a frente) ou a resistência a um ataque à traição (a retaguarda). Com isto, acho que só não vê quem não quiser que os países de maior valor da União Europeia são Portugal e a Alemanha, a retaguarda e a frente desta grande coluna militar em que vivemos. Ou a Suécia. Ou a França. Ou a Holanda. Não interessa quem está na frente. Há várias escolas de pensamento a esse respeito. Mas a retaguarda é nossa sem dúvida nenhuma. A Grécia tentou roubar-nos o que era nosso por direito durante vários anos mas lá os conseguimos pôr na ordem e instalar-nos no fundo de todas as tabelas estatísticas compiladas em Bruxelas e arredores. (De igual forma se costuma dizer que somos “o cu da Europa” mas nem valerá a pena lembrar a importância que a dita parte da nossa anatomia tem para todos.)

Os portugueses deram novos mundos ao mundo. Outro motivo de grande orgulho. Os holandeses, os espanhóis, os franceses e os ingleses também mas menos e os novos mundos deles não têm a mesma qualidade dos nossos e não consta que uma ex-colónia espanhola ou holandesa tenha alguma vez ganho o campeonato do mundo de futebol. A Argentina e o Uruguai não contam porque estão muito perto do Brasil e beneficiaram muito da influência lusitana.

Alguns dos nossos compatriotas contam-se entre as maiores mentes que a humanidade já conheceu. O brilhante Egas Moniz fez (quase de certeza) qualquer coisa tão genial que lhe deu direito a figurar na antiga nota de dez mil escudos. José Saramago ganhou o Nobel da literatura, distinção só atribuída aos cidadãos de países reconhecidos como colossos culturais de estatura idêntica à da Nigéria ou à de Santa Lúcia, por exemplo, países de origem de alguns dos antecessores do nosso Zé.

E depois temos o fado. O nosso fado. E a nossa Amália. E a nossa sardinha assada. E os nossos vinhos, os nossos manjericos, o nosso alho porro, as nossas minhotas e caravelas em filigrana. As açoteias algarvias e os bordéis trasmontanos. Os prostitutos juvenis do parque Eduardo VII e os campinos do Ribatejo. O bacalhau com natas, as francesinhas, as febras no pão e as “ajudazinhas” enfiadas num envelope discreto passado por baixo da mesa para “dar um jeitinho, não custa nada, é para isso que servem os amigos, ó senhor engenheiro fico-lhe a dever um favor, não quer dar umas voltas com a minha mais velha? olhe que se quiser está à vontade que a cachopa até já foi estreada por um marçano lá da terra e por isso não faz grande diferença e ela até agradece um padrinho como voss'ência.”

E é por isso que eu penduro a bandeira. Quero lá saber que me achem foleiro. Não vale a pena dizerem-me que está mal, que as pessoas só alinham nesta parvoíce por causa da bola e que quando isto passar vão enfiar as bandeiras na gaveta e nunca mais se lembram onde as meteram e que é só mesmo o futebol que ainda vai justificando a existência/subsistência deste relicário de Afonsos de Albuquerque, Luíses de Camões, Afonsos Henriques, príncipes perfeitos, Eusébios e reis desterrados perdidos no nevoeiro de uma parvónia marroquina e que hão-de voltar qualquer dia, logo que consigam achar quem lhes dê boleia até à cidade mais próxima, o que não há-de ser fácil porque nem por ali passam muitos carros nem haverá muita gente disposta a dar boleia a um cadáver ambulante com 400 anos.

E é por isso que Portugal é o maior e sempre há-de ser!

Quer dizer...

A não ser que a selecção perca com a Espanha no Domingo. Nesse caso, voltamos a ser a porcaria costumeira. Mas não há crise. Planeio trocar a bandeira que comprei ao chinês por uma reversível que tem a bandeira do brasil do outro lado e que só custa mais 50 cêntimos.

E o Brasil não nos há-de desiludir nisto de futebóis.

5.6.04

Elas e eles

Há alturas na vida de uma pessoa em que é preciso ganhar coragem e denunciar certas situações doa a quem doer e mesmo que isso possa vir a trazer complicações para o próprio denunciante. Atravesso neste preciso momento uma dessas fases. Vou denunciar o que tenho a denunciar sem medos e sem me preocupar com a minha própria integridade física e moral porque sou um gajo assim corajoso como já há poucos.

Falou-se recentemente em instituir quotas que salvaguardem a sobrevivência de uma espécie ameaçada. Não é o panda gigante nem o tigre da Sibéria e muito menos o lince da Malcata. A espécie ameaçada, meus amigos, é o médico. O bom e confiável médico que nos espreita para dentro da garganta, que nos apalpa, que nos receita coisas que sabem mal mas fazem bem, que olha para as nossas partes impronunciáveis e diz “nunca tinho visto uma coisa destas em trinta anos de carreira.”

O mesmo médico que nos pisca o olho quando apanhamos doenças marotas e nos faz sentir que tudo está bem, que, mesmo que a genitália esteja envolta em prurido, é apenas uma mazela fruto do cumprimento do nosso dever másculo de espalhar a sementinha e contribuir para a subsistência da humanidade.

Pois bem, este simpático personagem que já fazia rastreios da sífilis aos nossos trisavós, está em risco.

E porquê?

É simples. Porque cada vez há menos homens nos cursos de medicina e mais mulheres. Claro que me vão dizer: “Mas é a mesma coisa. Elas têm a mesma formação e são com toda a certeza tão competentes como os homens no desempenho da sua actividade.” Não digo que não sejam. Não posso é concordar que seja a mesma coisa.

Exemplifico.

Imagine-se um português típico. Chamemos-lhe Ernesto. Ora, o Ernesto tem 38 anos, foi pára-quedista, esteve na Bósnia a defender a pátria (que é Portugal e não a Bósnia, claro está-a não ser para os bósnios que pensarão exactamente o contrário). É casado. Tem duas filhas. Uma chama-se Vanessa, a outra não. A mulher dorme com o carteiro quase todas as manhãs mas ele não sabe e ainda bem porque é preciso manter a paz doméstica.

O nosso Ernesto costuma ir às meninas, como homem à moda antiga que é. Recentemente, descobriu uma verruga estranha no seu... bom... na ferramenta, digamos. Lembrou-se de uma vez em que estava apertado e não encontrou a menina do costume e vai daí, teve de se aviar com uma que não conhecia de lado nenhum e que nem referências tinha. Culpou-a a ela pela verruga. Ainda por cima, levou-lhe mais dinheiro e nem sequer fez o serviço como deve ser. A competência é uma coisa muito importante, realmente.

Depois de muito pensar, e sem saber que a peculiar maleita lhe tinha sido passada pelo carteiro por intermédio da sua esposa, decidiu-se a ir ao médico. Marcou consulta num urologista, faltou ao trabalho com o pretexto de ir pôr o carro na revisão e lá se apresentou no consultório à hora marcada. Entrou no gabinete, sentou-se e esperou pacientemente que o médico chegasse.

E o médico chegou. Só que o médico era uma médica! Uma médica, pois. Uma mulher com uma bata branca tal e qual. E não é que, como se isso não chegasse, tem o descaramento de perguntar “então diga lá o que se passa”?

É claro que o Ernesto inventou uma desculpa qualquer e se pôs dali para fora o mais depressa que pôde (não houve grande problema porque a verruga acabaria por desaparecer sozinha alguns dias mais tarde e sem repercussões). O que é que era suposto o homem fazer? Baixar as calças e pôr ali tudo ao léu em frente da rapariga? Mas onde é que isso já se viu? Não há lei? Não há respeito? Não há moral?

Está bem que muitos ginecologistas são homens e que, mesmo assim, uma boa parte dos seus clientes (senão a maioria) são mulheres mas não é o mesmo. São situações inteiramente diferentes.

Houve quem não levasse a ideia das quotas nos cursos de Medicina a sério. Houve quem ridicularizasse os seus autores. Mas os que o fizeram sentirão na pele os efeitos da sua inconsciência num futuro que se avizinha perigosamente próximo.

E não é só nos cursos de Medicina que o desequilíbrio entre alunos e alunas se faz sentir mas em todo o ensino superior. As poucas excepções são sobretudo cursos ligados à informática e a Engenharia Civil mas coloquemos de parte cursos que só existem para que os tontinhos dos computadores também possam estudar na universidade ou cursos para quem queria ser arquitecto mas não tem jeito para o desenho.

Da mesma forma que os médicos estão a ser substituídos por médicas, os sociólogos estão a ser substituídos por sociólogas, os advogados por advogadas, os geógrafos por geógrafas e por aí fora. Até se começa a notar um aumento do número das etnomusicologistas em detrimento dos etnomusicologistos.

Ainda se este domínio feminino do meio académio se devesse a motivos justos, era outra conversa. Mas não é o caso. As estudantes têm uma vantagem injusta em relação aos colegas. Está provado cientificamente que elas têm maior facilidade em aplicar-se nos estudos porque uma rapariga não tem os mesmos deveres sociais que um rapaz. Enquanto elas, ajuizadas e tranquilas por natureza, podem passar grandes períodos de tempo entregues ao estudo, eles são obrigados a fazer cedências para dar largas aos apelos da sua natureza viril. Imagine-se um jovem que é solicitado por uma companhia feminina para uma saída a local de diversão nocturna seguida de coito. Esperar-se-á que diga: “Ó filha, desculpa lá mas hoje não pode ser porque tenho de estudar”? Claro que não. Seria absurdo e antinatura. A generalizar-se este tipo de coisa, quem seria o pai das crianças do amanhã? Quem lutaria contra o envelhecimento gradual da população? Quem daria emprego a pediatras, educadoras de infância e fabricantes de bibes?

Sendo assim, não faltará muito para começarmos a ter mais deputadas que deputados, mais ministras que ministros, primeiras-ministras, mulheres a ocupar a presidência da república, mulheres a comandar as forças armadas. Mulheres, mulheres, mulheres por todo o lado.

Não se trata de machismo mas de racionalidade. Todos sabemos, a começar pelo bastonário da Ordem dos Médicos, que há diferenças entre os sexos e que essas diferenças vão além da simples anatomia, o que torna ruinosa a ocupação pelas mulheres dos lugares tradicionalmente ocupados pelos homens na sociedade em que vivemos.

E não é uma opinião subjectiva mas sim algo perfeitamente comprovável à luz da razão. É sabido que a mulher média tem um rabo consideravelmente mais amplo do que o homem médio. Ora, se as mulheres ocupam os lugares dos homens, veja-se o prejuízo que isso não trará na adaptação dos assentos aos assentos femininos. Vivemos tempos de crise económica e isto, pura e simplesmente, não pode ser!

É por motivos sérios e gravosos como os que aqui expus que homens dignos e preocupados com o bem-estar comum e com a preservação do nosso modo de vida levantaram a hipótese das quotas nos cursos de Medicina. E, provavelmente, deveriam ser propostas quotas em todos os cursos para salvaguardar a sobrevivência do Homem num mundo cada vez mais feminino. Assim mesmo. Sem medo de polémicas.

Porque, afinal, que papel restaria ao macho da espécie? O de mero objecto sexual tendo como únicos deveres abrir frascos, carregar caixotes, segurar malas e sacos à porta de gabinetes de prova e ir comprar tampões ao hipermercado?

Por mais que a parte do “mero objecto sexual” tenha deixado os leitores masculinos demasiado ocupados a fantasiar para ler o resto, há que pensar na importância que o status quo actual (com os homens a mandar) tem para a manutenção do modo de vida ocidental, padrão para todos os povos que se querem desenvolvidos.

Afinal, foi com os homens como sexo dominante que, ao longo de séculos incontáveis, a humanidade conseguiu transformar o mundo no sítio aprazível, pacífico, respeitador, organizado, justo, limpo e equilibrado que hoje é.

Para quê mexer em equipa que ganha?

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