24.10.04
Camilo Castelo Branco não teve uma vida feliz. O muito talento que tinha nunca lhe foi reconhecido em vida. O espírito crítico venenoso conquistou-lhe a admiração de um punhado de contemporâneos e o ódio da maior parte. Foi preso por se ter apaixonado por quem não devia, perdeu a visão e pôs fim à vida com um tiro.
Mas o pior ainda estava para vir.
Mais de cem anos depois da sua morte, Camilo ver-se-ia como personagem da série “A Ferreirinha” que a RTP durante tanto tempo anunciou como algo de sublime e que, afinal, é apenas mais do mesmo. Tivesse o escritor vivido na nossa época e veria que até os destinos mais trágicos podem ter um lado bom. Se a perda da visão o impedia de se dedicar à leitura e à escrita, de igual forma o pouparia a ver a triste figura de João Reis e Catarina Furtado como uma espécie de versão carnavalesca do desgraçado par romântico. Para o poupar aos diálogos, um sofrimento igualmente atroz, poderia sempre enfiar um lápis em cada ouvido até perfurar os tímpanos. A dor resultante não seria nada comparada com a tortura que é ver um episódio da “Ferreirinha” até ao fim.
De igual forma, não precisaria Camilo de revólver para pôr fim à vida se vivesse entre nós e fizesse parte dessa grande massa anónima e amorfa a que pertence a “nossa televisão.” Vinte minutos de “Ferreirinha” e alguém com a sensibilidade de Camilo não resistiria a uma morte implacável provocada ou pelo horror ou por um ataque fulminante de riso.
Porque uma qualidade consegue ter esta “megaprodução.” Os actores não precisam de falar para se perceber que algo está horrivelmente mal. Seja-lhe reconhecido o mérito de ser uma série honesta e que não engana ninguém. Aquilo que “A Ferreirinha” parece ser à primeira impressão corresponde de forma exacta ao que é realmente. A calamidade televisiva nota-se de imediato nas pequenas coisas. Nos ambientes de reconstituição histórica feita à antiga portuguesa (em cima do joelho) com um barril ali ao canto para tapar a boca de incêndio e um monte de palha estrategicamente espalhado por cima de uma tampa de esgoto. No guarda-roupa artesanal ou, o que a série tem de melhor, na assombrosa variedade de adereços capilares postiços que adornam os actores masculinos.
Um dos mais emblemáticos é precisamente a bigodaça de Camilo (João Reis), o resultado de uma noite louca de convívio entre o bigode amputado a Artur Jorge e uma toupeira atropelada. Mas também merecem igual respeito as patilhas do feitor Silva Torres, dois punhados de lã colados à cara do actor António Capelo ou a bigodaça aerodinâmica e tremelicante do Duque de Saldanha. Menção honrosa para a barba de Zé Povinho ostentada por Carlos Alberto Moniz, a prova viva de que é sempre bom avaliar os talentos para a representação das nossas celebridades sem medo de que o resultado possa ser embaraçoso.
E talvez seja este o adjectivo que melhor qualifica a “Ferreirinha.” É uma produção embaraçosa a todos os níveis. O elenco é incapaz. Mesmo os poucos actores que se poderiam salvar acabam contaminados pela atmosfera de imbecilidade historicamente reconstruída. Francisco Moita Flores parece decidido a piorar a qualidade do seu trabalho com cada novo projecto em que se envolve, qualidade que já andava muito longe de impressionar aquando das primeiras incursões televisivas e que agora nem a exibição gratuita e constante dos seios das actrizes salva.
Quem poderá esquecer o diálogo traumático entre Dona Antónia e Silva Torres em passeio pela vinha, dizendo-lhe esta que o vinho português é dos melhores do mundo porque está temperado com as lágrimas da gente que trabalha a terra? Ou os arremedos românticos choramingueiros de Camilo e Ana Plácido, qual casalinho de pombos mongolóides? E claro, o momento em que Camilo, já preso na Cadeia da Relação, pergunta o nome ao seu carcereiro que, após alguma hesitação, lhe diz que, se precisar de alguma coisa, pode chamar pelo Zé... Zé do Telhado. James Bond põe-te a pau.
Longe de ser a maravilha televisiva que a RTP tenta vender com as promoções constantes e com o apregoado “selo de qualidade” conferido pela autoria de Moita Flores, “A Ferreirinha” está mais próxima de uma produção artesanal de timbre quase venezuelano (não sei se o “quase” é por excesso ou por defeito) com argumento de alguém sublimado pela escassez de elementos de comparação como tantas vezes acontece por cá e em áreas tão diversas.
Usando uma metáfora vínica apropriada à história de uma mulher que dedicou a vida ao Vinho do Porto, a questão essencial é muito simples. “A Ferreirinha” falha como falham alguns vinhos. E a explicação mais frequente para o fracasso dos vinhos é a falta de qualidade das uvas. Da mesma forma que não se podem fazer bons vinhos com más uvas, é impossível fazer boa ficção televisiva sem talento.
19.10.04
Os campeões maravilharam o mundo. Com a sua maneira de jogar, com jogadores esforçados e modestos, com treinadores que sabiam o que queriam e para onde iam, com o domínio das competições do seu país de origem durante mais de dez anos, com os títulos conquistados lá fora, com os recordes que bateram, com o que evoluíram ao longo dos anos, deixando de ser um clube esforçado que ganhava um ou outro título por acaso para se assumir como a grande potência do jogo, ultrapassando com mérito os velhos colossos que, por culpa própria, se foram deixando mergulhar num estado de degradação patológica cujos primeiros sintomas se começaram a notar há décadas.
Reconhecidos que estão os méritos dos campeões e sempre com a consciência de que o que aqui for dito será visto por alguns como demonstração de “mau perder” e inveja de alguém cuja simpatia futeboleira não reside com os campeões mas com os “outros,” há uma ou duas coisas a dizer. A imparcialidade nestas coisas é praticamente impossível mas acredite quem quiser que está a ser feito um grande esforço.
Foi golo. Pronto. Isto já está resolvido. E até mesmo quem acha que os vários ângulos não permitem avaliar a coisa em condições sabe lá no fundo da consciência que foi e que quando a bola bate em cima da linha e vai para dentro da baliza, não há grande volta a dar-lhe (excepto a volta desesperada de um guarda-redes que já foi excelente a tentar disfarçar sem grandes esperanças a asneira cometida e longe de esperar que lhe saísse a sorte grande). Os penalties também eram mesmo penalties e um ou outro jogador devia ter sido educado com cartões didácticos que lhe ensinassem quais as cores primárias para além do azul das suas camisolas. Mas o que lá vai, lá vai. O jogo é mesmo assim, errar é humano, ninguém é perfeito, quem tem boca vai a Roma e os outros ditos costumeiros que se costumam usar nestas ocasiões e que estão todos igualmente carregados de sabedoria popular dificilmente desmentível.
Ainda por cima, é sabido que os árbitros que temos padecem da mesma incompetência que afecta por cá tanta gente com actividades diferentes e que, com o clima de guerra civil que rodeia o que não devia deixar de ser apenas um jogo, a solução mais fácil é sempre beneficiar o clube com mais adeptos, minimizando assim as críticas que virão depois. Tudo normal. Infeliz mas normal. O pior é quando a balança dos erros está tão desequilibrada para um dos lados e quando há a impressão notória de que há uma equipa que joga com rede de segurança, consciente de que, mesmo que as coisas corram mal, não há-de ser nada.
E foi então que alguém se lembrou do guarda Abel. E das visitas de dirigentes de um clube ao balneário dos árbitros antes deste ou daquele jogo. E das viagens de Carlos Calheiros ao Brasil feitas pela Cosmos e cujas facturas apareceram por engano na contabilidade do clube. E dos apitos com banho de ouro tão depressa silenciados (como se sabe, é fácil calar um apito; basta tirar-lhe a bolinha que tem dentro e que normalmente é feita de cortiça, o mesmo material de que são feitas as rolhas). Tudo boatos de mau gosto lançados por algum encarnado ou esverdeado mais empedernido.
Ou não? Tudo isto veio nos jornais, foi discutido por gente séria q.b., fizeram-se queixas, foram expostos argumentos e em nenhuma destas e de outras situações a situação ficou esclarecida. Ao invés, sucedeu o que costuma suceder neste país quando se tenta esclarecer uma questão incómoda. Deixou de se falar no assunto e esperou-se que surgisse acontecimento mais mediático para abafar tudo convenientemente com um pedregulho em cima.
Haverá explicação? Quando se acusa alguém sério e honesto, parece-me que quem estará mais interessado em esclarecer as coisas será o acusado (interessado mas não obrigado, visto que a prova compete a quem acusa), para que não restem dúvidas quanto à seriedade e honestidade que são postas em causa. Por mais voltas que dê, não consigo perceber porque, sempre que se fazem acusações do mesmo género ou de outros a gente de clubes não-campeões, as pessoas que neles mandam apressam-se a aparecer na televisão, nos jornais e em todo o lado onde deviam e não deviam aparecer a fazer escarcéu e a bradar acusações de cabala e a atirar provas de inocência ao ar, fazendo escandaleira digna de uma lota. E, algumas vezes, mentindo ou não dizendo toda a verdade (que acaba quase sempre por vir ao de cima).
No caso dos campeões, nada. Piadinhas de melhor ou pior gosto. Bocas. Ou então, quando a coisa é realmente grave, explicações gaguejadas e nervosas que não convencem ninguém. Quando a coisa se torna grave demais para explicações, há silêncio. O tal blackout de que as gentes ligadas a jogo tanto gostam.
Porquê?
O emblema não merece? A instituição centenária que representam também não? Nem merecem a cidade e a região que pretendem representar e que tantas vezes usam como arma de arremesso para escapar a questões mais incómodas? Que raio terão a esconder de tão sinistro que faz com que suportem e alimentem suspeitas que fariam corar a Máfia Calabresa?
Depois surgem os boatos. Cada um mais rebuscado do que o anterior e sucedendo-se de tal modo que se torna difícil saber onde acaba a calúnia rancorosa e onde começa a verdade. Quem manda, não se interessa muito em desmenti-los. Em vez disso, um comportamento de rufia vindo da mais alta instância dá o exemplo, fazendo com que, num país onde a maioria da população já não morre de amores pelos campeões por defeito de fabrico, o clube e os seus adeptos (a maioria que paga por uma micro-minoria insignificante mas com direito a exposição mediática) ganhem a injusta reputação de bando de arruaceiros. Algo que não sucede nos outros clubes com dimensão semelhante (pelo menos, entre si) que também têm os seus dirigentes que dizem qualquer porcaria que lhes passe pela cabeça e os seus grupos de delinquentes juvenis de estimação e com direito a patrocínio oficial. Porque, apesar de tudo, não se alimentam suspeitas. Podem presidentes, administradores, treinadores adjuntos e principais berrar o que quiserem que ninguém os leva a sério. É o colorido típico das gentes do jogo. E quando há suspeitas de qualquer irregularidade, são investigadas, e os culpados são castigados como aconteceu muito recentemente.
É isto que gostava que me explicassem: por que é que não se acaba de uma vez por todas com os boatos, transformando-os em mentiras simples e inofensivas? Porque não há indícios? Errado. Há indícios. Porque não há provas? Errado. Há provas. Porque não há queixas nem testemunhas? Errado. Há quem se queixe (para além dos imbecis do costume) e há quem dê mostras de saber coisas a respeito do assunto. Que raio falta aqui para além da investigação policial? É porque não é credível? Que mais falta para ser credível? Não é bizarro que a corrupção seja uma religião com mais fiéis em Portugal do que o tal catolicismo não-praticante e que se manifeste em todos os sectores menos no futebol? O que torna o futebol imune a subornos, cunhas e ajudinhas? Alguém se apresse a estudar este fenómeno para que possamos aplicar a mesma vacina ao resto da sociedade.
No fundo, é outra vez aquele hábito tão nosso de não querer mergulhar muito no charco para não corrermos o risco de ficar atolados no lodo. Nademos de bruços à superfície e deixe-se lá estar a imundície acomodada nas profundezas onde não incomoda quase ninguém. Há gente importante que gosta de crianças de uma forma pouco saudável mas é melhor deixar tudo como está. Prenda-se um desgraçado qualquer para aplacar as multidões e deixem-se as coisas correr lentamente e em silêncio para que a embrulhada seja esquecida e se possa restaurar o bom nome de quem o não merece. Prendam-se árbitros obscuros e dirigentes do Leça mas mais não. Ainda começava para aí uma guerra civil e depois era o cabo dos trabalhos.
Ou então, levem-se as coisas a sério e chegue-se a uma conclusão.
Se a conclusão a que se chegar, quando estiver tudo acabado, for a de que não há verdade nas suspeitas, então óptimo. Ficamos todos mais felizes. Afinal, foram mesmo coincidências. Resta aos que perdem (quase sempre por mérito próprio mas o “quase” é mais frequente do que devia e incomoda muito), enfiar a proverbial viola no saco e aprender a engolir os batráquios amargos da derrota. E então poderemos todos apoiar os nossos campeões sem pedras no sapato e ansiando merecer um dia os campeões que temos, em vez de termos os campeões que o país merece.
8.10.04
Está na moda criticar o governo por tudo e por nada. Quanto a mim, não me parece correcto que isto aconteça. É verdade que criticar o governo por tudo e por nada é uma coisa que eu faço aqui muitas vezes e ainda por cima escudado atrás deste anonimato vil e criminoso (obrigado Pacheco Pereira por tudo o que nos ensinaste e que sejas muito feliz onde quer que estejas-provavelmente na vila da Marmeleira às portas de Rio Maior). Mas não é bem a mesma coisa. Em primeiro lugar, porque não o faço por gosto. Acreditem-me quando vos digo que, de cada vez que insinuo que Pedro Santana Lopes é um imbecil e que Paulo Portas é um ditadorzito in vitro, dói-me mais a mim do que a eles. Em segundo lugar, ninguém vai acreditar no que vou dizer agora mas também não tenho que provar nada a ninguém, tenho uma licença especial do primeiro-ministro para escrever aqui todas as barbaridades que me venham à cabeça. Deu-ma uma vez que nos encontrámos em Cacilhas às tantas da madrugada. Eu esperava um autocarro para ir para casa e ele saía de um dos bares de reputação duvidosa que ali havia mesmo em frente da Lisnave. Isto passou-se há uns anos. Acalmem-se os moralistas que ainda não tinha as altas responsabilidades de Estado que hoje tem. Era só presidente do Sporting ou coisa que o valha. Veio sentar-se na paragem ao meu lado, cumprimentou e disse que ali estava porque tinha bebido uns copos a mais e não estava em condições de conduzir. Por isso, esperava uma boleia de uma amiga a quem tinha telefonado e que por acaso tinha amante fixo na zona da Costa da Caparica (parece que um brasileiro com muito bom ar). Vi logo que era homem com as ideias no sítio, coisa em que nunca tinha reparado quando o via falar na televisão.
Falámos durante algum tempo porque o autocarro estava atrasado e trocámos impressões sobre vários assuntos então na ordem do dia. Quando o autocarro finalmente chegou, despedimo-nos com cordialidade e ainda teve tempo de me dizer qualquer coisa nestes termos: “Olha, se algum dia quiseres ir para a internet dizer cobras e lagartos sobre mim, estás à vontade, ouviste?” E eu cá estou. Palavra de honra que é tudo verdade.
Mas voltando ao assunto a que me referia antes desta singela diatribe pessoal, todos criticam o governo por actos censórios alegadamente movidos contra Marcelo Rebelo de Sousa e contra as longas-metragens que eram os seus comentários nos domingos à noite na TVI e que já se tinham tornado uma verdadeira instituição nacional.
O ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, referiu-se aos comentários de Marcelo, acusando-os de conter mentiras e falsidades e mostrando-se indignado com a inacção da Alta Autoridade para a Comunicação Social. As mentiras a que se referia, tinham sobretudo a ver com uma referência feita por Marcelo a uma medida do actual governo que considerava ser “pior do que o pior do governo de António Guterres.”
Sinceramente, creio que foi escusado. Não sei se teve ou não razão porque acho a afirmação confusa e contraditória. Comparar o pior do governo de Santana Lopes com o pior do governo de Guterres é mais ou menos o mesmo que comparar os métodos usados pela Santa Inquisição e os métodos usados pela Gestapo. Se calhar, é possível fazer-se uma comparação deste tipo mas alguém se interessa? Não chega saber que as duas coisas são igualmente más? Mas adiante. Não é a mim que me cabe avaliar o discurso do professor Marcelo até porque acho que isto de avaliar os outros é muito feio.
A verdade dos factos é que mesmo os muitos que agora andam pela praça a gritar “Aqui d’El-Rei que querem censurar os comentadores televisivos do nosso Portugal!” também estão contentinhos da Silva por o Jornal Nacional da TVI na sua edição de Domingo ter ficado 45 minutos mais curto. Ainda por cima porque agora é na TVI que dão os resumos da bola e uma pessoa sempre tem de fazer um frete mais pequeno.
E afinal quem é que elegeu Marcelo Rebelo de Sousa o opinador-geral da república? Que fez esta alminha de tão importante para merecer tal distinção? Usou pêra durante mais de uma década? Liderou o PSD durante cerca de meia hora (mais coisa menos coisa, sei que durou menos do que um dos seus comentários)? Ou terá sido por ter dado umas braçadas no Tejo (que explica o desaparecimento da pêra-é sabido que a poluição é inimiga dos pêlos faciais)? Ou por causa do surf no Guincho? Ou por ter vencido as concorridas eleições para a Assembleia de Freguesia de Celorico de Basto? É que assim de repente não me ocorre mais nada.
No fundo, tudo se resume a uma questão de gosto. E confesso que até acompanhava a rubrica literária do comentário com alguma simpatia. Cheguei a seguir algumas das propostas do professor, não todas porque infelizmente não durmo só duas horas por noite como ele e tenho de me limitar a dezassete livros por semana. Li, por exemplo, “O Cão de Castro Laboreiro-Uma História Secular” uma edição magnífica do Clube de Canicultura de Entre Douro e Minho e gostei quase tanto como da estrondosa e profusamente ilustrada “Monografia do Traque” editada pela Câmara Municipal de Estarreja. Recomendo vivamente qualquer uma destas obras a quem tiver a felicidade de as encontrar à venda.
Não está nada perdido, de qualquer forma. Posso procurar as minhas sugestões de leitura noutro sítio qualquer. Sei lá... no DNA ou na Dica do Lidl. Ficamos todos melhor sem aquelas conversas de algibeira que encerravam cada comentário entre Marcelo e o pivot de serviço do Jornal Nacional. “-Então professor, como vai o seu neto? –Está crescido. Ainda ontem teve a primeira crise de diarreia, sabe? A propósito, tome lá este leitão que lhe manda o senhor Amândio lá de Celorico e olhe que ainda está quentinho, que maravilha.”
E perguntam-me assim: “mas olha lá, isso de querer calar as pessoas e não sei quê não é muito feio e até potencialmente lesivo para a saúde da ainda jovem democracia em que vivemos” (e é mesmo jovem, se fosse uma pessoa, há apenas cinco anos ainda tinha direito a Cartão Jovem)? Bom... lesivo para a saúde da democracia talvez não seja porque se continuamos a viver num país mais ou menos democrático (para todos os efeitos há eleições de vez em quando) depois das porcarias todas por que temos passado desde o Verão Quente ao Cavaquismo, Guterrismo, Barrosismo e ao actual Aneurismo, então a nossa humilde democracia é uma espécie de Super-Homem invulnerável dos sistemas políticos. Quanto ao resto, talvez seja feio. É bem capaz. Mas há que fazer sacrifícios. É bom que tenhamos princípios e que nos orientemos por eles mas é preciso aprender a ver as coisas em termos conjunturais e pô-los de parte quando valores mais altos se alevantam.
Talvez isto seja apenas o princípio de um movimento duradouro. Talvez a classe política portuguesa pretenda autosilenciar-se de forma gradual. Imaginem o paraíso que seria? Em termos práticos não haveria grandes diferenças. Continuaríamos a ser pobrezinhos e desonrados mas em paz e silêncio. Que nos lixassem a vida à vontade mas mantendo-nos numa prazenteira ignorância. Uma maravilha, não era? Até me salivo todo só de pensar.
Resta deixar aqui uma palavrinha de apreço dirigida a alguém que sei de fonte segura ser leitor atento. Como é pessoal, o resto de vocês pode ficar por aqui. É tudo o que tenho a dizer. Adeus.
Agora nós, Paes do Amaral. Ou Miguel. Permite-me que te chame Miguel. Obrigado! Não sei se foi o ministro que puxou os cordelinhos nem quero saber. O que sei é que foste tu o responsável por ficarmos livres da aulinha semanal do professor. Não me interessam os teus motivos. Não quero saber se foram mais ou menos nobres. Agradeço-te do fundo do coração. E até te perdoo por tudo. Pela Paula Neves, pelo Zé Maria, pelos Batanetes, pelo Carlos Ribeiro. Bom... por quase tudo. Pela Manuela Moura Guedes não te perdoo. Vais ter de te esforçar mais.